Diadema participa de ato intermunicipal em combate à Violência contra a Mulher
- Redação
- há 9 horas
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Evento na Praça Lauro Michels aconteceu em cidades de todo o estado e contou com microfone aberto para a manifestação de mulheres
Na última terça (26), atendendo a um chamado da Secretaria Estadual de Políticas Públicas para a Mulher, a Coordenação de Políticas Públicas para as Mulheres convocou uma Ação de Combate à Violência contra a Mulher, para celebrar o Agosto Lilás. Foram realizados atos simultâneos em cidades de todo o estado de São Paulo, nos mesmos horários, das 10h às 12h. Em Diadema, o ato foi na Praça Lauro Michels, no centro da cidade.
“Foi um espaço de escuta, aprendizado e construção coletiva, em sintonia com o governo do estado,” explicou a coordenadora Cida Ferreira. “Contamos com a presença e participação do Conselho das Mulheres e das delegadas eleitas na Conferência, vereadoras, funcionárias públicas, educadoras, advogadas, enfim, representantes de todas as Mulheres de Diadema que puderam fazer uso livre do microfone e passar o seu recado à população.”
A coordenadora da Casa Beth Lobo, Amanda Pankararu, foi a primeira a se manifestar: “A Casa Beth Lobo, que atende mulheres vítimas da violência, é uma conquista das mulheres da região do ABC. É um espaço usado para popularizar o uso da Lei Maria da Penha, receber as denúncias e, principalmente, acolher essas mulheres,” pontuou. “É preciso fortalecer a mulher para que ela venha, faça a denúncia e enfrente todas as violências, incluindo as violências institucionais, que a mulher sofre quando está mais vulnerável, busca ajuda e não é respeitada.”
Já a vereadora Fernanda Durães, um das duas únicas vereadoras da cidade, agradeceu também os poucos homens presentes. “É importante a participação dos homens no combate ao machismo também,” lembrou ela. “No Agosto Lilás é essencial chamar todas e todos ao enfrentamento da violência contra as mulheres, em todos os aspectos, seja a violência física, violência psicológica, violência institucional – e eu vejo, enquanto mulher à frente de trabalhos públicos, o quanto isso ainda existe. São atos como este que vão ecoar pela cidade, vão ser vistos e vão fazer uma grande diferença na vida de nossas mulheres.”
Um dos depoimentos que mais sensibilizou as presentes foi a da pedagoga Daniele Barros, 45, moradora do Canhema: “Eu passei por vários abusos domésticos. Muitas vezes fui até a delegacia e fiquei com medo de denunciar. E eu digo hoje: Não tenham medo. Nem vergonha. Eu era muito submissa e perdi o respeito e o amor-próprio por mim mesma. Passar por isso é muito dolorido, eu cuido de traumas até hoje, mas a lição que fica disso é nunca, jamais, deixar alguém relar um dedo em vocês.”
A advogada Marion Alves de Oliveira, eleita delegada suplente na última Conferência da Mulher, lembrou que aquilo que o filho vê em casa, ele leva para a vida toda. “E o que estamos ensinando aos nossos meninos se a violência contra a mulher começa dentro de casa, no dia a dia? É preciso que todos se unam para que a violência diminua.”
A mãe de santo Mamet’u Dandaominre wá Riá N’Kisse N’Dandalunda, conhecida também como Mãe Márcia de Oxum, fez uso do microfone em nome do Conselho Municipal de Políticas Públicas para as Mulheres, que tomou posse recentemente, e também em nome dos Povos Tradicionais de Matriz Africana: “Antes de tudo, venho representando a mulher, pois antes de religião, tradição, antes de bairro, cidade país, eu sou mulher. E é como mulher que eu digo não à violência. Pois muitas vezes a mulher chega a achar até que a violência é algo natural, a partir do que ela experimenta no dia a dia, e não é. É uma agressão.”
Mamet’u fez questão de lembrar de algumas músicas que incentivam a violência contra a mulher: “Nos bailes, tratam a mulher como objeto e isso vai fazendo com que as meninas achem normal esse tipo de violência. O homem que encosta maliciosamente no ônibus, que passa se esfregando, nada disso é normal. Mas parece que é. Ontem mesmo uma moradora do Canhema foi esfaqueada por não querer fazer amor. Amor? Isso não é amor. Mas pro parceiro é normal bater, esfaquear, matar uma companheira que apenas disse não para o sexo. E os filhos, assistindo, vão se tornar os agressores de amanhã.”
Maria Ivanilsa Batista Costa, que já foi presidente do Conselho e hoje representa o poder legislativo, reforçou o absurdo do caso da moça esfaqueada no Canhema. “Nós acompanhamos as mulheres atendidas pela Casa Beth Lobo e são muitas, muitas mulheres. Elas estão pedindo socorro. É preciso mesmo ocupar as praças para dar voz a essas mulheres.”
A Secretária de Assuntos Jurídicos da Prefeitura, Dra. Denise, fez questão de lembrar das mulheres que acham até normal apanhar do marido. “Pois, se não se submeterem, não garantem para si o sustento, nem o sustento de seus filhos. E perdem audição, mobilidade e até morrem por isso. É preciso garantir o empoderamento dessas mulheres, de nossas filhas, para que elas possam se erguer e dizer não. É dizer a elas ‘Vai, denuncia, eu estou contigo.'”
A coordenadora da Juventude, Iza Oliveira, foi uma das várias ali que destacou a importância do ato e de levá-lo a outras praças, de outras regiões da cidade. “Só assim a gente vai conseguir diminuir essa violência.”
Após essas e outras falas, o ato foi finalizado com um poema de Elaine Oliveira, 52, da Secretaria de Educação, ela mesmo vítima de violência doméstica: “Mulheres / Flores que resistem / Em jardins de dor e sofrimento / Seus sorrisos escondidos / Por trás de lágrimas e medo / Suas vozes silenciadas / Por mãos que não querem ouvir / Mas ainda assim / Vocês resistem com força e coragem / Sem desistir.”
*_Fotos: Adriana Horvath_*
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