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Carol e Larissa e o papel transformador da Libras no PPA de Mauá

  • Foto do escritor: Redação
    Redação
  • 27 de jun.
  • 3 min de leitura

Intérpretes tornaram debates mais acessíveis e fortalecem a participação da comunidade surda no planejamento do futuro da cidade


Em meio às discussões sobre o futuro da cidade, uma presença chamou a atenção durante as audiências públicas do PPA Participativo 2026/2029, promovidas pela Prefeitura de Mauá: as intérpretes de Libras, posicionadas entre a mesa das autoridades e o telão. O revezamento entre Larissa e Carol não era apenas uma questão técnica — era um símbolo claro de cidadania e inclusão.


A iniciativa de garantir tradução simultânea em Língua Brasileira de Sinais foi uma das grandes novidades dos encontros e representou um marco importante no compromisso da cidade com a acessibilidade. Em um espaço onde ideias, propostas e reivindicações são apresentadas com emoção e urgência, a presença das intérpretes assegurou que a comunidade surda também pudesse acompanhar e participar plenamente.


*De Mauá para a inclusão: uma história que começa em casa*


O que poucos sabiam ao verem as intérpretes em ação é que elas são irmãs, criadas em Mauá e profundamente conectadas à comunidade surda. Carol, 30 anos, mora na Vila Vitória. Larissa, 29, é do Jardim Primavera. Ambas cresceram em uma família com 26 pessoas surdas e aprenderam Libras antes mesmo de falar. A língua de sinais foi, literalmente, a primeira forma de comunicação das duas.


Carol começou sua trajetória profissional como intérprete educacional em 2013, após anos de atuação voluntária com os pais. Formada em Letras com especialização em Libras, também tem formação em surdocegueira e atua como guia-intérprete. Trabalha na Prefeitura de São Paulo e colabora com a Febrapils (Federação Nacional de Associações de Tradutores e Intérpretes de Libras). Larissa começou na pedagogia e, ao entrar em uma central de intérpretes, decidiu aprofundar sua formação na área. Hoje, cursa Tradução e Interpretação e traz no currículo a experiência de atuação em empresas com dezenas de colaboradores surdos.


Ambas defendem que a formação técnica é essencial, mas o verdadeiro aprendizado vem do contato direto com a comunidade. “Aprender Libras é como aprender qualquer outro idioma: é preciso conviver com quem fala. A gente só desenvolve de verdade convivendo com pessoas surdas, ouvindo, observando, respeitando”, diz Larissa.


*Traduzir também é representar*


Durante o PPA Participativo, as duas tiveram a missão de dar voz visual a falas cheias de emoção e significado. “Cada discurso carrega uma luta, um sentimento. Traduzir isso é desafiador, mas também gratificante”, conta Carol. Para Larissa, o momento mais marcante da carreira foi interpretar para Sylvia Lia, primeira professora surda da USP — uma referência em sua trajetória.


Elas destacam, no entanto, que a presença de intérpretes ainda não é recorrente nos eventos públicos da cidade. “A desculpa de que não há público não pode ser usada. Primeiro se garante acessibilidade, depois o público vem. No PPA, uma militante surda participou e fez contribuições riquíssimas. Isso mostra o quanto ainda se perde por falta de acessibilidade contínua”, afirma Larissa.


Ambas reforçam que o intérprete deve ser um coadjuvante. “Os protagonistas são as pessoas surdas. Nós só existimos porque elas existem. O reconhecimento do nosso papel precisa vir com essa consciência de privilégio e responsabilidade”, diz.


*Inclusão começa cedo — e continua para sempre*


Essa consciência também se reflete na vida pessoal. A filha de Carol aprendeu Libras antes de falar e se comunica naturalmente com os avós. “A inclusão começa cedo, dentro de casa, e transforma tudo ao nosso redor”, afirma. As irmãs também reconhecem a importância da Apasma, instituição que frequentavam na infância com os pais. “Mesmo sem vínculo direto, sempre recomendo. Faz parte da nossa história”, diz Carol.


Com vozes e mãos, Carol e Larissa ajudaram a transformar o PPA de Mauá em um espaço verdadeiramente participativo — e deixaram o recado: acessibilidade não pode ser exceção. Tem que ser regra.

 
 
 

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